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Biblioteca Velha

Conheça a Biblioteca Velha do Seminário Maior de Coimbra.

A Biblioteca Velha do Seminário Maior de Coimbra encontra-se instalada numa das salas do Piso térreo e contém uma coleção de obras impressas entre o início do século XVI e o ano de 1800.

A coleção é constituída por cerca de 9.000 livros, de elevado valor histórico e patrimonial.

Biblioteca Velha do Seminário Maior de Coimbra

Tudo começou com a doação da biblioteca particular do Bispo-Conde D. Miguel da Anunciação, fundador do Seminário. O acervo foi depois sendo aumentado com a entrada regular de diversas obras, por compra e por doação.

Respondendo à intenção do Bispo Fundador em criar um "Colégio" onde "possam viver retirados e com recato" os que acodem à cidade de Coimbra para frequentar a Universidade, o Seminário teve a preocupação de constituir uma Biblioteca que respondesse às necessidades de todos os estudantes ali alojados: aqueles que se destinavam à vida eclesiástica ("Ordinandos") mas também os que se destinavam à vida civil (“Porcionistas").

O Decreto de extinção das ordens religiosas (publicado em 30 de maio de 1834) atingiu os Colégios universitários de Coimbra e está na origem da dispersão das suas ricas bibliotecas.

De todo esse conjunto, que colocava Coimbra a par das cidades universitárias europeias mais ricas em livros, salvaram-se duas bibliotecas: a do Colégio Real de São Pedro (que hoje se guarda na Biblioteca Geral da Universidade) e a Biblioteca Velha do Seminário Maior.

A Biblioteca Velha do Seminário Maior apresenta características que podem ser consideradas como raras:

  • É selecionada (foi constituída e mantida de forma criteriosa, ao longo de três séculos);
  • É específica (servindo de apoio a um universo bem identificado de professores e estudantes);
  • Mantém-se íntegra (resistiu não apenas aos efeitos do Decreto de 1834 mas também ao processo de secularização dos bens da Igreja, que se seguiu à implantação da República, em 1910).

Em alinhamento com a sua história e a sua vocação, as principais áreas temáticas deste notável fundo de livro antigo correspondem à Teologia, Direito (Canónico e Civil), Sagrada Escritura, Humanidades e História.

As línguas que prevalecem são o Latim, o Português, o Castelhano e o Francês.

Um dos mais recentes projetos do Seminário Maior de Coimbra consiste na conservação e restauro da Biblioteca Velha.

Está em curso um plano que envolve a recuperação de cerca de duas centenas de obras impressas ao longo do século XVI (a primeira das quais data do ano de 1506).

Encontra-se ainda prevista a integração do catálogo em Redes Nacionais, de acesso aberto.

Em face da importância, da dimensão e da urgência dos projetos e contando com recursos muito limitados, o Seminário aceita e agradece a ajuda mecenática de particulares, Fundações e outros organismos públicos e privados.

Biblioteca Velha

7 Livros

De entre os cerca de 9 mil livros que integram o acervo, destacamos 7, tendo em conta a sua raridade e a sua importância na missão formativa que a Biblioteca vem desempenhando:

SANTO ALBERTO MAGNO [ 1506 ]

ALBERTO MAGNO (Santo); Scriptũ primum diui Alberti Magni Ordinis Predicatorum Ratisponĕsis Episcopi super primum sententiarum; [Basilee de Pfortzen,1506]; A8, N8, 06, P8, Z8; A8, B6, C8, D6, E8; A8, P8, 97; Imp. em caracteres góticos a 2 col., com iniciais capitais não desenhadas. Picos de traça; Enc. da época, com pastas de madeira revestidas a pele e cantos metálicos, ornamentada a ferros secos; faltam os fechos; enc. rebentada.

Livro de comentários de Santo Alberto Magno ao "Primeiro Livro das Sentenças" de Pedro Lombardo. Uma forma comum de "fazer teologia" na época medieval era comentando os autores já consagrados. Foi o que fez o frade dominicano Alberto de Lauingen, antes de ser bispo de Ratisbona (Alemanha), de ser conhecido, e de lhe ser atribuído o título de "Grande" (Magno): comentou as "Sentenças" de Pedro Lombardo, obra maior deste autor de renome. Por sua vez, estes comentários viriam a tornar-se também uma referência teológica e filosófica.
Ora, sendo quer Pedro Lombardo quer Santo Alberto Magno, nomes de referência no estudo da filosofia e da teologia tradicional cristã, esta é uma obra que a biblioteca de qualquer colégio universitário da época — e mais ainda a Biblioteca de um Seminário — se esforçaria por obter para facultar aos seus escolares.
Obra impressa ainda nos primeiros tempos da tipografia manual (impresso em Basileia, Suíça, em 1507, apresenta as principais características dos primeiros livros impressos, denominados "incunábulos": escrita em caracteres góticos, texto disposto em colunas, tinta confeccionada com materiais inteiramente naturais, papel de grande robustez e qualidade, manufacturado a partir de trapos de linho), enferma já das "máculas" com que o tempo e o uso frequente a marcaram: lombada deteriorada, caruncho na madeira das "almas" das capas, couro ressequido, ataque de xilófagos, encadernação desfeita devido ao muito uso; o exemplar necessita (e merece!) uma intervenção urgente que lhe devolva (algum) do "esplendor original" característico destas obras tão valiosas quão raras.

OS LUSÍADAS [ 1639 ]

CAMÕES, LUÍS VAZ DE; Lusiadas / de Luis de Camoens,/ Principe de los Poetas de España./ Al Rey N. Señor/ Felipe Quarto El Grande./ Comentadas por Manuel de Faria i Sousa, […]; En Madrid: por Juan Sanchez, 1639; 4 vol., il.; 8º; Il. grav a buril, sendo de especial atenção as do início de cada Canto; Manchas de humidade e de acidez; Pertences ms. riscados: "De Ant.o de Oliv.a Frayam"; "Fr. Bernardo da Camara [?] Mag.es"; ex-libris ms. do S.; Os 4 t. enc. em 2 vol.

Esta obra foi impressa em 1639 e dedicada a Filipe III, Rei de Espanha e de Portugal.
Pelo desenvolvimento e pela fundamentação dos comentários de Manuel de Faria e Sousa (elaborados ao longo de mais de vinte anos), esta edição viria a transformar-se numa referência obrigatória para os camonistas de todas as gerações, incluindo aqueles que ainda hoje se dedicam ao estudo do príncipe dos poetas portugueses.
O exemplar existente nesta Biblioteca apresenta os sinais de um dos maiores "inimigos" do livro impresso: a humidade — associada à baixa qualidade dos pigmentos de impressão e dos materiais utilizados para confecção do papel — que provoca a "acidificação" (pigmentação acastanhada, sobretudo na área da mancha gráfica) das folhas, aqui bem patente.

ALBUQUERQUE, ANDRÉ LOPES DE [patrocínio]

ALBUQUERQUE, ANDRÉ LOPES DE [patrocínio]; [Códice Manuscrito Litúrgico do sec XVII], mandado compilar pelo “patrocinador”, Deão da Sé da Guarda, e oferecido a D. Fr. Álvaro da Silva, aliás de São Boaventura (Bispo da Guarda, 1669-1672, e de Coimbra, 1672-1683); 232 x 159 x 24 mm, em pergaminho, dividido em 3 partes: 1ª: a8, b6, c4, d6 f., 2ª: [4] f., 3ª: a8, b8, c4 f.; P. de tít. ornamentada, il. com o brasão de armas de família do Bispo supra ao centro e as capitais "I" e "A" ornamentadas, em estilo gótico, à cabeça e ao pé, respectivamente; Enc. em carneira castanha, de ataca (atacadores desaparecidos), ornamentada a ferros secos, com uma cercadura formada por ferros tetrafoliares, tendo ao centro das pastas o mesmo ferro disposto em losango e uma cercadura de motivos estilizados de difícil identificação. A lombada encontra-se lacerada, e pode ainda deduzir-se ter sido dourado o corte, sendo nitidamente expressos os sinais de cansaço do ex., muito aparado.

Uma dádiva digna de um rei — ou, no caso, de um "príncipe" da Igreja, como eram tidos os Bispos da época: a oferta perfeita que o Deão da Sé da Guarda encontrou para o Bispo recém nomeado, e achou por bem realizar, foi a compilação de um conjunto de textos comummente usados nas diversas acções de um Bispo, e por, isso, úteis ao seu múnus pastoral. Pra tanto, mandou elaborar um "vade mecum" sob a forma de códice, manuscrito em pergaminho, de dimensões aceitáveis para o uso frequente. Obstava assim à utilização dos pesados e pouco manuseáveis volumes habitualmente em uso na época.
Transferido pouco depois para a Sé de Coimbra, o Bispo D. Frei Álvaro de São Boaventura trouxe consigo aquela preciosa oferta. Este volume foi amplamente utilizado pelos seus sucessores — como atestam os sinais do seu muito uso e de encadernações sucessivas.

ROBERT DE VAUGONDY, GILLES

ROBERT DE VAUGONDY, GILLES; Atlas/ universel / par M. [Gilles] Robert [de Vaugondy] Geographe ordinaire du Roy /et /par M. [Didier] Robert de Vaugondy son fils...; A Paris: chez les auteurs…; chez Boudet…, 1757; 40 p. [79] mapas: il.; fólio; Mapas grav. a buril e coloridos à mão; Enc. outrora revestida a carneira castanha [testemunhada pelas manchas características deixadas no cartão das almas], inteiramente desaparecida; Ex. em mau estado devido a exposição prolongada a humidade/contacto com água.

O século XVIII foi o século da "descoberta" do valor da sistematização do conhecimento e da sua divulgação. Foi a época das "Grandes Bibliotecas", surgiu a primeira Enciclopédia, e tiveram lugar as muitas viagens de exploração dos "novos mundos" (muitas dessas "descobertas" acontecidas por via das anteriores viagens marítimas de portugueses).
A representação do mundo (conhecido) deixou de ter uma finalidade meramente táctica para passar a colocar as novidades à disposição dos académicos (e também dos curiosos). Nessa perspectiva, os poderosos reis da Europa contratam geógrafos e cartógrafos que, através dos seus trabalhos, lhes vão disponibilizando acesso a um mundo de grandeza quase inimaginável poucos séculos antes.
Disso é testemunha este Atlas, da autoria dos geógrafos do rei de França, que, a par com a representação tradicional da "velha Europa", dá a conhecer a sua real dimensão no orbe terráqueo (embora ainda com lacunas substanciais, relativamente ao mundo conhecido nos nossos dias).
Sendo uma obra característica da época em que foi construído o Seminário e constituída a sua Biblioteca, compreende-se que tenha ficado ao serviço da formação dos estudantes que, na altura, residiam no Seminário, tanto eclesiásticos como laicos. A corroborar esse destaque, a obra teve até "direito" a um escaninho propositadamente construído, o que não acontece com nenhum outro volume desta Biblioteca.
Este Atlas, tão precioso aquando da sua vinda para esta Biblioteca, em virtude de alguma incúria quando, em finais do século XX, foram realizadas obras específicas em algumas salas dos andares superiores, esteve durante vários anos sujeito à ação da água que, continuamente gotejava sobre o volume —o que provocou uma degradação acentuada do exemplar.

DORAT, CLAUDE JOSEPH

DORAT, CLAUDE JOSEPH; Les baisers/ ou collection/ de petits poëmes/ érotiques; A La Haye et se trouve a Paris: chez Sébastien Jorry... et Delalain..., 1770 [enc. com outros].

Esta "Pequena Colecção de Poemas Eróticos" tem de ser vista e entendida à luz do século XVIII: a palavra "erótico" tinha uma conotação diferente (muito mais ampla) da que aquela que hoje lhe damos.
De qualquer das formas, este livro não veio para a Biblioteca do Seminário enquanto obra independente, mas por fazer parte de um conjunto de volumes onde foram reunidos os trabalhos concorrentes ao Prémio Literário da Académie française nos primeiros anos da década de 1770. O facto de o texto integrar a colecção que reúne os inéditos concorrentes a um prémio literário, faz diluir o "inesperado" de se encontrar um "livro erótico" numa biblioteca (essencialmente) eclesiástica: o estudo das letras (literatura) sempre teve lugar de destaque na formação académica. Mas é precisamente esse "inesperado" que faz com que mereça um destaque especial.

MISSALE ROMANUM

IGREJA CATÓLICA. LITURGIA E RITUAL; Missale Romanum/ ex Decreto Sacrosancti/ Concilii Tridentini restitutum/ S.Pii V jussu editum, Clementis VIII,/ et Urbani papæ Octavi/ auctoritate recognitum...; Antuerpiæ: ex Architypographia Plantiniana, M.DCC.XXXVII [1737]; [64], 628, CXXVIII, [4] p.: il.; 4.º; P. de antetít. e tít. il., música, grav. a buril; P. de tít. e texto imp. a vermelho e preto; manchas de acidez e manuseamento; Enc. da época “à l’éventail”, com pastas de madeira revestidas a pele preta com ferros dourados, fechos de metal (haste do superior partida), corte dourado e gravado, e índices de dedo em forma de botão em fio metálico.

Diz o Concílio de Trento que a Sagrada Liturgia é expressão, na terra, do fausto e da glória da Corte Celestial. Por isso, tudo na "liturgia tridentina" assenta no fausto e no esplendor, desde os trajes dos oficiantes (Paramentos), aos utensílios utilizados (Alfaias litúrgicas), passando pelos grandiosos volumes que reúnem os Textos Sagrados (partes da Bíblia utilizadas na liturgia, como os Leccionários e os Evangeliários), os textos eclesiásticos de oração e prática litúrgica (Missal e Breviário romanos) ou os textos com normas e preceitos a seguir (Pontifical Romano e Ritual Romano), tudo é confeccionado com esmero, esplendor e ostentação.
Este exemplar do Missal Romano, não sendo dos mais ricamente manufacturados e adornados, é, ainda assim, exemplo disso mesmo: os materiais utilizados, os acabamentos, a atenção ao mínimo detalhe e ao mais pequeno pormenor revelam-se na forma como a carneira foi profusamente decorada (neste exemplar foi utilizada uma técnica de decoração chamada encadernação "à l'éventail", que consta de pequenos leques que vão, por disposição diversa, constituir o principal motivo da ornamentação), pelo corte efectuado com precisão e requinte, e depois dourado e gravado com maestria, pelos "botões" (que ajudam ao manuseamento das folhas mais frequentemente usadas) em fios metálicos entretecidos com fios de seda...
Este Missal, hoje guardado na Biblioteca, destinava-se inicialmente a ser usado nas celebrações dos dias de especial solenidade, presididas pelo Bispo.

ARAÚJO, ANTÓNIO JACINTO DE

ARAÚJO, ANTÓNIO JACINTO DE; Nova Arte de Escrever,/ offerecida ao Principe Nosso Senhor,/ para instrucçaŏ da mocidade:/ composta por /Antonio Jacintho de Araujo,/ Professor d’Escripta, e Arithmetica, e correspondente da Academia Imperial das Sciencias em S.t Petersbourgo; Lisboa, na Officina de Antonio Gomes, M.DCC.XC.IV [1794]; [26] p., [25] f.; il., fólio; P. de tít. com marca tipográfica com as armas da Casa de Bragança; obra dividida em duas partes, a primeira teórica, com texto em 2 col. em caixa, com iniciais capitais ornamentadas com motivos arquitectónicos; a segunda correspondente a exercícios de caligrafia, com pranchas il. grav. a buril.

No Seminário de Coimbra estudavam meninos desde que tinham idade para aprender as letras. Pelo menos essa foi uma das intenções fundacionais avocadas por D. Miguel da Anunciação na exposição feita à Coroa a solicitar autorização Real para construir o Seminário.
Aprender a desenhar as letras de forma correcta sempre foi matéria importante nos primeiros anos de instrução; daí a existência deste volume ensinando Caligrafia e as suas regras.
O exemplar impresso, dedicado ao Príncipe de Portugal (que veio a ser o Rei D. João VI), contém pranchas gravadas a buril que reproduzem trabalhos em caligrafia de minúcia surpreendente, paciência perseverante e execução primorosa.